quarta-feira, 18 de março de 2009

"O mal que venho sofrendo
E que em meu peito se lê,
Sei que o sinto, mas por que
O sinto é que não entendo"
(Manuel Bandeira)

Segue, abaixo, o conjunto de poesias pelo qual recebemos a Menção Honrosa (4ºlugar) no 3º Festival de Literatura da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Todas foram assinadas com o pseudônimo de MARIO QUITANDA.

Veja-me

Nas marcas dos passos que você não deu
Vejo um futuro breve que não é meu
Pelo vidro apaixonado sou teu
Mas numa vida que não sou eu.

E nas ruas que você não passou
Ainda resta o cheiro do seu perfume
O gosto do beijo que você não deu
E a vontade louca de ser teu.

É saudade que eu muito sinto
Daquele momento que não vivemos
Do dia que não nos conhecemos.

E agora que ainda não te vi
Quero de novo poder sentir
Como no dia que só eu te conheci.

Mario Quitanda


Ex in terior

Os olhos se retorcem.
Curvas, retas e outras formas
que entorpecem, confundem.
Parece o interior do amor

Achei um quadrado, aberto,
um triângulo fechado.
Formas que não seguem padrão.
Parece o interior do amor.

Mas mesmo na não forma
existe uma beleza estrutural,
de traços leves e precisos.
Parece o exterior do amor.


Mario Quitanda


Teu laço

O laço de cetim branco
Eis ai todo meu desejo
Enquanto jovens pensam,
Eu poeta sonho. Com o toque
Do laço de cetim branco
Aperto-lhe contra o peito
Amo-o,
E peço aos Deuses que ele,
(o laço) passeie, levemente
Entre meus dedos.


Mario Quitanda


Sonhos

Há sonhos no meu quarto!
Sonhos que somem pelo espaço,
voando pelo lugar exato,
apagando meus futuros retratos.

Há paredes pintadas pelo vento!
A brisa que corre do mar,
que corta meu rosto desatento
e mancha as cores do luar.

As portas das minhas viagens
muitas vezes fecham o caminho,
sem me deixar ver miragens,
implorando por um pouco de carinho.

Mario Quitanda


Infância

Quando eu era bem pequeno,
meu cata-vento tinha quatro pontas.
Hoje que não sou mais tão pequeno,
meu cata-vento tem oito versos.

Quando eu era pequeno,
as vezes eu chorava.
Hoje que não sou mais tão pequeno,
as vezes eu escrevo.

Mario Quitanda